Da Sensibilidade e da Inteligência
A boa intenção não a ponho em causa! Mas quem se terá lembrado de, a mais uma mensagem de apoio à Ucrânia, — que anexa um nib para depósito —, juntar-lhe como som de fundo uma sirene de aviso de ataque aéreo?
Ter-se- ão esquecido do horror que esse som provoca em quem o ouve e nunca passou pela tragédia da guerra; mas especialmente a todas as pessoas (refugiados ucranianos) que rumaram ao nosso país em busca de paz?! De um recomeço até poderem regressar e (que obrigamos) a ouvir periodicamente aqui e ali, esta terrível sirene, trazendo-lhe à lembrança a angústia; medo, tristeza e dor profunda de terem de abandonar a sua pátria!
Será boa ideia?
Não haveria outra forma, outro som (já agora sem ser o de um bombardeio) para anexar à mensagem que pretende, afinal, que as pessoas se consciencializem e solidarizem.
Penso que todos já estamos sensibilizados que baste! E sabemos perfeitamente como soa uma sirene destas e só de a ouvir, nos encolhemos e ficamos quase petrificados com a ideia e possibilidade de passarmos por isso.
Reflictam agora um bocadinho sobre todos que vieram para Portugal e a quem prometemos tratar bem. Prover-lhes abrigo e estabilidade física e emocional, estar sujeito a ouvir isto e ter que reviver tudo de repente.
As pessoas fogem para escapar às sirenes, bombas e tentar salvar-se, já bastante traumatizadas e muitas separadas dos maridos e de outros entes queridos. E "nós" servimos-lhe na rádio, nas lojas, em tudo (onde querem poder estar em paz) alarmes e instabilidade.
Ainda se ouvem os sons das sirenes das ambulâncias que não nos deixam esquecer que a Covid continua activa e que nem todos temos a sorte de continuar a viver as nossas vidas com a normalidade que podemos.
Desculpem se a minha publicação não vos faz sentido, mas a mim, aos meus e a algumas pessoas com quem tenho falado... esta sirene desestabiliza. O que fará às muitas famílias que, em Portugal, tentam esquecer e recomeçar?
Chocar ou aprofundar males que ficarão para sempre infiltrados na lembrança de uma criança, no quotidiano de uma família, nem sempre é a melhor abordagem para um problema.
Falou-se há pouco de limites para o humor e o poder de encaixe de uma piada, aqui estar-se-á ou não a ultrapassar os limites de continuar a causar sofrimento (numa campanha publicitária) mesmo que a intenção seja a melhor? Pois. Não sei. Talvez.